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Rosely Sayão: os pais andam obedientes demais.

10/08/2017 - Fonte: Revista Veja

Psicóloga é a nova colunista de VEJA e, em entrevista na edição desta semana, fala sobre educação – na escola e em casa.

Quando termina suas palestras em alguma escola, a psicóloga Rosely Sayão precisa de ajuda para sair com tranquilidade do prédio — costuma ser cercada por dezenas de pais, cheios de perguntas adicionais às respondidas no palco, a respeito de dilemas na própria casa. Formada pela PUC de Campinas, ela se tornou a mais conhecida referência em questões de família no país. Boa parte da projeção se deve ao trabalho na imprensa, desde que começou a escrever sobre sexo no extinto jornal Notícias Populares, há quase três décadas, e logo depois na Folha de S.Paulo, da qual se despediu há duas semanas, para se dedicar ao público de VEJA — ela assinará uma coluna mensal na revista a partir da próxima edição e apresentará um programa semanal no site em que responderá a questões enviadas pelos internautas, algo semelhante ao que faz na rádio BandNews FM. Aos 67 anos, Rosely vive em um condomínio tranquilo em Sorocaba, a cerca de 100 quilômetros da capital paulista, e mantém-se atuante em consultório e no atendimento a colégios e grupos de pais. Da própria experiência pessoal — é mãe de um casal, de 38 e 42 anos —, a principal conclusão é que os adultos vêm tornando a paternidade mais complicada nas últimas décadas. “Eu trabalhava fora, deixava os dois com a empregada e nunca sentia a menor culpa por isso, como se tornou comum atualmente.” A seguir, sua entrevista.

Por que há tantas questões sobre como criar um filho? As pessoas perderam a noção do que é uma criança. Se ela pergunta o que há na barriga de uma mulher grávida, podemos dizer apenas: um bebê. As famílias, porém, se cobram tanto que já querem explicar como o bebê entrou como vai sair o namoro do papai e da mamãe. Não se dá mais a resposta “quando você crescer vai entender”, que em geral satisfaz as crianças. Outro sinal da dificuldade de lidar com a infância é que os pequenos têm agenda de adulto, cheia de cursos e responsabilidades.


Isso pode ter impacto no futuro? O problema é que a chance de brincar com a vida, que não foi aproveitada na infância, vira uma demanda no fim da adolescência. O número de adultos que levantam cedo para acordar o filho, de modo que ele não perca a hora das aulas na faculdade, é absurdo. Se você vai à secretaria de uma universidade no fim do semestre, há mais pais que alunos resolvendo todo tipo de pendência. Anos depois, os jovens chegam ao mercado de trabalho e muitas empresas têm dificuldade de lidar com esse perfil de recém-formado, o adulto que faz birra: só reclama, dá murro na mesa, sapateia.

Os pais de hoje se cobram em excesso? As mães se culpam muito. Elas tentam oferecer um tempo do qual não dispõem, por compromissos profissionais ou outros motivos. Nem sempre é possível controlar como passaram a noite, se acordaram dispostas, e aí elas forçam demais a barra em busca de uma perfeição que colocaram na cabeça mas não é alcançável.

A senhora cita o exagero das mães. E os homens? A preocupação é bem menor, nem se compara. O papel deles tem mudado na educação, mas o avanço ainda é pequeno, em geral restrito a alguns grandes centros. Vocês viram essa repercussão sobre o (ator e apresentador do canal pago GNT) Rodrigo Hilbert? Aparece na mídia que ele cozinha, constrói casa na árvore no quintal, e fica todo mundo assombrado.

Isso mostra quanto nossa sociedade ainda é machista, que o homem, em regra, é de pouco envolvimento. Surgiram recentemente na internet alguns blogs criados por pais que fazem sucesso por ser algo diferente, já que quase todos os espaços com esses temas são abastecidos por mulheres.

A dificuldade em dizer “não” permanece? Em toda palestra que eu dou, há uma pergunta assim na plateia: “Como falar não?”. E eu digo: “Vou ensinar, gente, atenção: você olha nos olhos e diz: ‘Nããão’ ”. Faço essa brincadeira para perceberem quão ridícula é a questão. Os pais hoje têm esse receio enorme de desagradar, um medo de perder o amor dos filhos.

Sempre foi o oposto. Era o temor dos pequenos de perder o afeto dos mais velhos que permitia muitas vezes que fossem educados, deixando de fazer várias besteiras. Entendi melhor essa movimentação com os temas do Bauman (o sociólogo polonês Zygmunt Bauman): a fragilidade dos laços afetivos hoje é uma coisa que nos assombra. O ser humano precisa de vínculos razoavelmente estáveis e duradouros, mas nada mais é assim entre nossos pares. Então, estamos jogando sobre os filhos essa expectativa. Com isso, o que temos visto, em geral, são os pais superobedientes. Loucura, não?

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