Notícias


Como EDUCAR sem prêmios ou Castigos

16/12/2019 - Gabriel Salomao

Novo post em Lar Montessori


Como Educar sem Prêmios ou Castigos
por gabrielmsalomao

A maior parte de nós foi educada com base no medo do castigo, ou na busca por prêmios e elogios. Nosso automático, então, é educar as crianças assim também. Mas esse não é o único caminho. Existe outro, mais bonito, mais livre e mais eficaz.

Quando alguém faz alguma coisa em troca de uma recompensa externa, chamamos isso de motivação extrínseca. É assim quando trabalhamos exclusivamente pelo salário. Às vezes é o único jeito. Mas não é agradável, e nós não nos envolvemos profundamente com o trabalho.

Por outro lado, quando fazemos alguma coisa por uma decisão pessoal, porque acreditamos que é importante, ou porque gostamos de fazer, a motivação é intrínseca. Pode ser que ninguém fique sabendo. Mas nós fazemos, e nos empenhamos por um bom resultado, só porque é importante.

Eu não preciso dizer, mas todos os estudos de psicologia cognitiva com números grandes de pessoas e variáveis controladas do jeito certo apontam para a mesma coisa: a motivação intrínseca (aquela interior, sem prêmios) é a melhor opção para o bem-estar, o empenho e o desempenho, tanto no trabalho quanto nos estudos. Vale para adultos e crianças.

Algumas vezes, acreditamos que as crianças, sem prêmios ou castigos, não vão saber se comportar. Nós fomos acostumados a pensar assim. Mas no geral, não é verdade.

Se recompensamos as crianças por um bom comportamento, a consequência não é que elas vão sempre se comportar bem, mas que elas vão sempre buscar uma recompensa, um prêmio, por um comportamento correto. Como esse prêmio não vai existir sempre, o comportamento piora.

O mesmo vale para os castigos. As crianças não evitam um mal comportamento porque foram castigadas antes. Elas evitam ser pegas fazendo a coisa errada. Não é o comportamento que elas evitam, mas o castigo.

As coisas podem ser diferentes.

Em lugar de prêmios e castigos, Maria Montessori, uma psiquiatra italiana especializada em desenvolvimento infantil, que pesquisou crianças por quarenta anos, defende que deveríamos usar liberdade em um ambiente preparado.

A liberdade a que ela se refere não é “deixar a criança fazer qualquer coisa”, mas sim deixar as crianças fazerem tudo o que for importante para o seu desenvolvimento. Alguns exemplos de coisas importante e que os adultos geralmente proíbem:

Subir escadas, carregar copos de vidro e pratos de porcelana, lavar as mãos sozinha, regar as plantas, colocar comida para os bichos, abrir o armário para pegar comida e se servir, e comer, e lavar o prato.

Em geral, nós proibimos porque achamos que a criança corre risco, ou porque pode nos causar algum incômodo (confesso, mais pelo segundo motivo do que pelo primeiro). A sugestão da psiquiatra Maria Montessori é:

Primeiro preparamos os ambientes de nossas casas, colocando as coisas à disposição das crianças, numa altura adequada, e com tamanhos e pesos adequados também.

Depois, vamos mostrando a ela, aos poucos, uma ou duas coisas por dia, como se faz. Mostramos devagar, falando muito pouco, com gestos lentos e pausados, para que elas possam mesmo aprender.

Em seguida, deixamos que elas façam as coisas sozinhas. Damos dois passos para trás, nos ocupamos de outra coisa, e confiamos nas crianças.

O que acontece é que as crianças desenvolvem concentração, autocontrole, e um conjunto de funções cerebrais chamadas “Funções Executivas”, que só se desenvolvem quando a criança conquista independência gradativa, num ambiente preparado, com a ajuda de adultos pacientes. A explicação não é minha, é do Centro para a Criança em Desenvolvimento, da Universidade de Harvard.

As Funções Executivas incluem a capacidade de lidar com regras e exceções, e o controle do próprio comportamento. Junto com a motivação intrínseca, elas fazem verdadeiros milagres.

As crianças, quando têm a “liberdade” no ambiente preparado, de que fala Montessori, desenvolvem as duas coisas: a capacidade de executar o comportamento correto, e o prazer interior de se dedicar a coisas importantes.

Falando dessa maneira, pode parecer complexo, e até inatingível. Não é. Você pode começar a mudar sua casa hoje, mesmo. Pode colocar alguns objetos da cozinha numa prateleira baixa, ao alcance das crianças, como uma jarra com água e um copo, um potinho com pedaços de frutas e um garfo.

No banheiro, você pode colocar um banquinho, bem firme e bem grande, para que a criança possa lavar as mãos sozinha, e um sabonete que caiba nas mãos dela.

Lembre-se: o ambiente é importantíssimo. Mas você também é. Mostre como se faz as coisas, e depois deixe seu filho fazer. Ele vai errar e tentar de novo muitas vezes. É assim que a gente aprende, é assim que o cérebro desenvolve Funções Executivas. É assim que a motivação intrínseca se fortalece, e é assim que preparamos nossas crianças para a vida.

Quando as crianças desenvolvem a motivação correta, e quando o cérebro delas foi exercitado do jeito certo, elas não dependem das nossas ameaçadas e das nossas recompensas. Elas se tornam seres fortes, independentes, e capazes.

Entendem regras, entendem obrigações. Mas essa é a menor parte de tudo. A parte mais importante é que elas desenvolvem interesse e fascínio pelo mundo. Não trabalham nem estudam porque alguém lhes prometeu alguma coisa, mas sim porque o mundo tem muito para a gente entender, e porque ainda há muito a ser feito, e fazer é interessante.

Existe uma alternativa a essa educação densa e pesada, cheia de broncas, prêmios, punições e recompensas. Uma educação mais livre, mas também mais profunda. Mais leve, mas também mais intensa. Acima de tudo, uma educação que é uma ajuda à vida.

Mais Notícias

zaite
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nosso site.
Ao utilizar nosso site e suas ferramentas, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Zaite Tecnologia - Política de Privacidade

Esta política estabelece como ocorre o tratamento dos dados pessoais dos visitantes dos sites dos projetos gerenciados pela Zaite Tecnologia.

As informações coletadas de usuários ao preencher formulários inclusos neste site serão utilizadas apenas para fins de comunicação de nossas ações.

O presente site utiliza a tecnologia de cookies, através dos quais não é possível identificar diretamente o usuário. Entretanto, a partir deles é possível saber informações mais generalizadas, como geolocalização, navegador utilizado e se o acesso é por desktop ou mobile, além de identificar outras informações sobre hábitos de navegação.

O usuário tem direito a obter, em relação aos dados tratados pelo nosso site, a qualquer momento, a confirmação do armazenamento desses dados.

O consentimento do usuário titular dos dados será fornecido através do próprio site e seus formulários preenchidos.

De acordo com os termos estabelecidos nesta política, a Zaite Tecnologia não divulgará dados pessoais.

Com o objetivo de garantir maior proteção das informações pessoais que estão no banco de dados, a Zaite Tecnologia implementa medidas contra ameaças físicas e técnicas, a fim de proteger todas as informações pessoais para evitar uso e divulgação não autorizados.

fechar